Se tem algo que une pessoas com útero de todas as fases e histórias, esse ponto certamente é a menstruação. Ainda assim, por mais que seja um tema comum, a verdade é que a forma como vivemos nossos ciclos menstruais pode ser bastante diferente. Por exemplo: você já pensou em como as mulheres indígenas lidam com a vida menstrual?
A menstruação na cultura indígena é cercada de simbolismos e tradições, muitas delas bem específicas de cada etnia. Mas o que acontece nas aldeias pode trazer importantes lições para todas nós, sabia?
Para entender um pouco mais sobre este tema, o EntreElas by Exeltis reuniu algumas ideias e dicas bem importantes. Olha só:
Nhengue: a hora da Menarca e a iniciação da menina como mulher.
Tem coisa mais marcante que a chegada da Menarca, nosso primeiro ciclo menstrual? São inúmeras mudanças no corpo, na rotina, nos cuidados com a mente… enfim, quase uma nova vida.
Aliás, esse é um conceito que é levado a sério na cultura indígena: a Nhengue, que significa algo como “primeira menstruação” em Guarani, é geralmente um evento de renascimento, com direito a ritual próprio, festas e entoação de cânticos para celebrar o fim da adolescência e o início da fase adulta da nova mulher.
Entre o início da menstruação até pelo menos o fim do fluxo inicial, porém, este também é um período de isolamento (de no mínimo uma semana) no qual a jovem se separa totalmente da tribo.
As únicas pessoas que podem manter o contato com a menina, neste instante, são a avó e a mãe. Essa é uma forma de manter tudo em casa, e de também passar experiências sobre como lidar com as mudanças que estão para acontecer.
O objetivo é manter a menina isolada para que a jovem possa afastar maus espíritos e pessoas maliciosas, enquanto o corpo termina seu processo para permitir a reprodução e a construção de uma família.
Tradição e resguardo: a vida na tribo durante a menstruação na cultura indígena
O isolamento é feito somente após a Menarca, mas a tradição pede que o resguardo da mulher seja feito sempre durante os dias de TPM e de menstruação.
Enquanto a discussão sobre uma possível licença menstrual ganha corpo no mundo, a tradição indígena já destaca a importância do alívio à sobrecarga da mulher, poupando-as de atividades do dia a dia como cozinhar e organizar a casa (os maridos ou filhos mais velhos se encarregam dessas tarefas).
Vale destacar que hoje, com o avanço da urbanização perto das aldeias, muitas mulheres dos povos originários estão atuando também no mercado de trabalho tradicional. Como resultado, cada vez mais é difícil manter estes hábitos de isolamento e repouso.
Liberdade, acolhimento e generosidade: as lições da menstruação.
A chegada da menarca marca o início da vida fértil, quando a menina vira mulher e pode ser mãe. Por isso, uma das lições mais enraizadas nas tradições indígenas é a necessidade de tornar todas as novas mulheres em pessoas preparadas para cuidar umas das outras – e das crianças que elas gerarem.
A percepção indígena com relação ao ciclo menstrual impulsiona uma visão de liberdade e pertencimento. Uma cuida da outra e todos cuidam delas.
E, afinal, mulheres indígenas usam absorventes?
Sim (embora não seja uma regra). As mulheres indígenas usam absorventes – como os Tikunas, absorvente feito a partir do Tururi, uma fibra de madeira natural, resistente, reutilizável e flexível que envolve os frutos de uma palmeira chamada Ubuçu.