A endometriose é uma condição médica crônica que afeta muitas mulheres em idade reprodutiva. Por provocar cólicas abdominais muito intensas, especialmente no período pré-menstrual, a endometriose afeta muito a qualidade de vida das pessoas, impactando na sua dedicação aos estudos, trabalho, relacionamentos, vida sexual e fertilidade.
A fertilidade é, inclusive, uma das principais dúvidas das pacientes no dia a dia do consultório. Elas querem saber se a pessoa com endometriose pode engravidar, quais os melhores tratamentos, se há cura… Outra dúvida é se a endometriose está relacionada a câncer – e para essa dúvida, eu já adianto que não, pode ficar tranquila!
Então, vamos entender melhor o que é endometriose, os sintomas e como se dá o tratamento? Abaixo, eu explico tudo detalhadamente. Acompanhe!
O que é endometriose e como ela afeta o corpo da mulher e sua qualidade de vida?
Endometriose é quando o tecido do endométrio, que reveste a cavidade uterina, está posicionado fora do útero. Esse tecido pode estar em vários locais fora do útero, entre eles, nos ovários, no peritônio, nas trompas, na bexiga, nos intestinos. A endometriose provoca muitas dores na mulher, muitas cólicas e a tendência é que essas dores progridam a cada ciclo, de tal forma que os analgésicos mais fracos precisam ser substituídos por medicamentos mais fortes para terem efeito. A doença impacta tanto a qualidade de vida que muitas mulheres sofrem de depressão por conta da endometriose.
Quais são os principais sintomas da endometriose?
Os principais sintomas são as cólicas. Geralmente, essas dores ocorrem no período pré-menstrual, cerca de três ou quatro dias antes da menstruação, e se intensificam a cada ciclo, devido à progressão da doença. Nos casos de endometriose mais profunda, a paciente pode ter dores durante a relação sexual.
Como é feito o diagnóstico de endometriose?
O diagnóstico de endometriose é clínico. Essa cólica menstrual, chamada de dismenorreia, é progressiva, vai aumentando a cada ciclo, a cada mês. Um dos exames mais solicitados para diagnóstico da endometriose é a ressonância nuclear magnética.
Quais são os tipos de endometriose?
A endometriose pode ser classificada como leve ou profunda. A endometriose leve é quando as lesões são em menor número ou superficiais. Já a endometriose profunda é aquela que já está acometendo órgãos importantes como o reto, a bexiga, o ureter. E tem outro tipo de endometriose que seria “a distância”. São aquelas que têm a disseminação da endometriose, geralmente, por via sanguínea, e podem acometer os olhos, o pulmão, o umbigo, ou seja, em lugares distantes do útero, que é o ciclo original do endométrio. Essas são situações mais raras, mas podem acontecer.
Como é o tratamento?
Após o diagnóstico, o tratamento da endometriose tem foco no alívio dos sintomas e na preservação da fertilidade da paciente. Ele é realizado a partir do uso de contraceptivos hormonais, que são fundamentais para conter a doença. Importante destacar que o uso de anticoncepcionais não leva à cura, mas alivia muito a dor no período pré-menstrual, reduzindo o fluxo menstrual. Se for o caso, o anticoncepcional também pode ser prescrito para interromper a menstruação (amenorreia). Os contraceptivos hormonais, nesse caso, podem ser combinados com estrogênio e progestagênio ou somente com progestagênio.
Para casos de endometriose profunda, pode ser recomendada a cirurgia. Se há risco para a vida da paciente, quando a endometriose está bem mais avançada, invadindo o intestino, a bexiga e outros órgãos, é indicada a cirurgia videolaparoscopia – uma técnica que usa uma câmera ligada a uma ótica introduzida através da parede abdominal. Não é tão comum a paciente chegar a esse ponto de correr risco de morte, mas é comum a doença atingir esses órgãos.
A endometriose pode afetar a fertilidade das mulheres e quais são as opções para quem deseja ter filhos?
Sim, a infertilidade é um fator clássico da endometriose. Quando a mulher deseja engravidar, o tratamento é feito por estimulações da ovulação ou técnicas de inseminação intrauterina. Caso ela já tenha as trompas comprometidas ou obstruídas, que seria um caso de endometriose profunda, a principal indicação seria a fertilização in vitro.
Quando se pretende ter filhos, não é possível fazer o principal tratamento de endometriose, que é a anticoncepção. E, por se tratar de uma doença progressiva, é importante que a paciente engravide o mais rapidamente possível para não comprometer tanto os órgãos internos como o útero, as trompas e os ovários.
Quais são os fatores de risco associados à endometriose?
A endometriose é uma doença que tem o comportamento agressivo e invasivo. Ela vai agredindo e se estendendo pelos tecidos adjacentes onde já está implantada e pode trazer riscos de invasão intestinal, provocando sangramentos e obstrução no intestino, invasão do ureter, podendo afetar inclusive a drenagem e exclusão renal da mulher.
Existem medidas preventivas para reduzir o risco de desenvolver endometriose?
As medidas preventivas passam principalmente pelo diagnóstico precoce, fundamental para se reduzir o avanço e a invasão da endometriose. Então, meu recado pra você é: percebeu que tem cólicas muito fortes, diferentes do que estava acostumada ou, no caso de adolescentes, sofre muito com essas dores, é importante procurar assistência médica para investigar.
O uso de anticoncepcional hormonal atenua e segura o avanço da endometriose. E, fora isso, a prática de exercícios físicos, em conjunto com uma alimentação saudável, é muito mais preciso e contribui para a prevenção da doença.
Quais as consequências da não realização do tratamento adequado?
A não realização do tratamento adequado com esse bloqueio hormonal, principalmente com a progesterona, pode trazer consequências de infertilidade e avanços da endometriose, comprometendo estruturas abdominais importantes para a função vital da pessoa.
Quando a retirada do útero é necessária?
A retirada do útero não é uma indicação comum, porque você pode retirar o útero e continuar com a endometriose. Se a gente lembrar, essa condição alimenta-se principalmente pelo estrogênio, que é uma produção dos ovários, e é por isso que quando se faz uma contracepção, mesmo que tenha estrogênio, mas como contém progestagênio, se consegue conter o avanço da doença. Mas a retirada do útero não vai resolver o problema, é inclusive um erro, porque a paciente continua com dor e sofrimento. Da mesma forma, a retirada dos ovários não é indicada porque essas mulheres entrariam em menopausa precoce, o que gera graves problemas para a saúde e qualidade de vida e todo o desenvolvimento dessa mulher. Pior ainda se o objetivo ainda for engravidar, pois seria impossível. O objetivo das cirurgias são reverter um processo de infertilidade ou para conter os avanços da doença em órgãos importantes.
Quais são os últimos avanços na pesquisa e no tratamento da endometriose?
Entre os últimos avanços temos progestagênios cada vez mais potentes que, além de uma ação contraceptiva, ajudam no tratamento, no caso de quem não deseja engravidar. Já em relação à cirurgia de videolaparoscopia, estão surgindo aparelhos cada vez mais avançados, já se encontra cirurgia robótica para esse problema, que é bem mais precisa na eliminação dos focos da doença. E para quem deseja engravidar, a fertilização in vitro e toda a sua tecnologia pode ser uma grande aliada.
Dúvidas esclarecidas? Se você observar algum desses sintomas, não perca tempo, procure um médico para o diagnóstico precoce, isso vai te proporcionar muito mais qualidade de vida. Conhecimento liberta e é vida. Informe-se! Ah, e se puder, compartilhe este conteúdo com outras pessoas que possam se interessar.