Como se proteger e agir nesse caso
Você consegue imaginar sua vida sem tudo que a internet oferece? Apps, redes, conexões… enfim, muita coisa. Só que nem tudo são flores: o mundo da Era Digital também trouxe a maior vulnerabilidade das pessoas a ameaças como o vazamento de imagens íntimas.
Essa é a história da Soraia*, hoje com 26 anos, e de Fernanda*, atualmente com 24, que viram suas fotos serem divulgadas sem consentimento ainda nos tempos de escola.
“Eu descobri de uma forma muito, muito ruim. Estava na escola quando um garoto veio falar comigo e começou a descrever meu corpo, dizendo que meu namorado tinha mostrado imagens minhas pra todo mundo. Eu tinha 18 anos e não fazia ideia do que aquilo significava”, diz Soraia.
Já Fernanda viveu essa sensação ainda mais cedo, aos 14 anos. “Descobri pelo meu irmão, que estudava em outra escola. Ele me mandou pelo celular, ao mesmo tempo em que também enviou para meus pais. Foi horrível. Nem sabia quem tinha vazado e, do nada, tudo se transformou numa pressão enorme”, conta.
Fotos íntimas caindo nas mãos erradas
Quando fotos íntimas caem nas mãos erradas ou são compartilhadas sem que a pessoa saiba, as consequências mentais podem ser devastadoras. “Sempre foi comum ver casos em que vídeos e fotos das meninas apareciam assim. Soube de vários casos, mas, quando aconteceu comigo, fiquei com um medo desesperador”, descreve Soraia, lembrando que no início não conseguiu contar para ninguém.
Além disso, a sensação de invasão de privacidade e o estigma associado podem causar danos emocionais e físicos profundos. “A parte mais difícil foi voltar pra escola sabendo que eu tinha sido exposta de forma tão íntima. Durante muito tempo, tive de conviver com a insegurança e gente me apontando o dedo por conta disso”, relembra Fernanda.
Por isso, hoje, o EntreElas by Exeltis irá discutir as implicações psicológicas do vazamento de imagens íntimas – além de apresentar dicas importantes para prevenir a exposição indesejada e lidar com a situação, caso ocorra.
Ah, e vale destacar que expor imagens íntimas sem consentimento é crime. Para denunciar, ligue 180 e apoie quem for vítima dessa situação.
Vamos juntas?
Consequências Mentais do Vazamento de Imagens Íntimas
1. Vergonha e Humilhação: o vazamento de imagens íntimas muitas vezes resulta em sentimentos intensos de vergonha e humilhação. “Eu fiquei com muita vergonha, vergonha de mim, do meu corpo… Chegaram a criar um perfil fake no Facebook, com meu nome e minhas fotos. Foi algo horrível, porque tinha a impressão de que a cidade toda saberia e riria de mim”, conta Fernanda. As vítimas podem se sentir envergonhadas de enfrentar amigos, familiares e colegas devido ao medo do julgamento.
2. Ansiedade e Depressão: a exposição on-line pode levar a um aumento significativo da ansiedade e da depressão. A sensação de perda de controle sobre a própria imagem e privacidade pode ser esmagadora.
3. Isolamento Social: “Eu não andava na rua porque se alguém me olhasse eu achava que era porque sabia e estava me julgando. Passei mais de 6 meses trancada em casa”, relata Soraia. Uma das consequências mais comuns nestes casos é o isolamento social associado ao medo de ser ridicularizada ou estigmatizada. O sentimento de ser alvo de comentários maldosos ou piadas pode dificultar a interação com outras pessoas.
4. Baixa Autoestima: Soraia avalia, ainda, que o período foi brutal em relação à própria imagem que ela tinha de si. “Meu namorado, quando espalhou minhas imagens, disse que eu já tinha transado com todo mundo, que minha vagina não era rosinha ou pequena, que era o que ele achava ser o jeito como uma vagina de uma virgem deveria ser. Eu não queria ter que explicar como minha vagina era, nem nada do meu corpo. Hoje entendi que cada mulher tem suas próprias características. Entendi que ele era só um babaca.
O vazamento de imagens íntimas pode abalar a autoestima das vítimas, fazendo-as duvidar de sua autoimagem e de seu valor como indivíduos.
Lidando com o Vazamento de Imagens Íntimas
Segundo Antônio Firmino Junior, advogado, a primeira coisa a se fazer quando há a disseminação de conteúdo íntimo é reunir todos os links (mídias e capturas de tela) que possam indicar quem foi o autor desse vazamento. “É preciso mostrar quem vazou as imagens, além de quando e onde isso aconteceu. Com esse material em mãos, a vítima deve registrar um Boletim de Ocorrência para que a autoridade policial inicie a investigação”, conta.
O advogado lembra que a internet não é uma terra sem lei. “Podemos citar várias leis que regulamentam o uso da internet, como a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) e Lei 14.155/2021 que tornou mais grave os crimes considerados cibernéticos. Além delas, há também a chamada ‘Lei Carolina Dieckmann’, que criminaliza a invasão de aparelhos eletrônicos.”
Vale salientar, ainda, que a exposição de conteúdo com crianças e adolescentes também é coberta pelo ECA (Estatuto da Criança e Adolescente), definindo penas de até 8 anos de prisão e multa para quem fizer o vazamento.
“Toda pessoa tem seu direito de imagem, portanto publicar qualquer tipo de foto, seja de conteúdo íntimo e sem autorização pode acarretar um processo judicial”, observa Firmino. Sob o ponto de vista do Código Penal, a divulgação de fotos íntimas tem a condenação de penas de 2 a 5 anos de prisão.
O advogado reitera que as principais dicas são:
– Mantenha a calma: Pois é normal sentir uma variedade de emoções, mas respire fundo antes de tomar qualquer medida.
– Denuncie e peça a remoção do conteúdo: denuncie o conteúdo vazado às plataformas relevantes (se estiverem na Web) e solicite sua remoção. Muitas plataformas têm políticas contra o compartilhamento não consensual de imagens.
– Busque apoio: fale com amigos, familiares ou um profissional de saúde mental para obter apoio emocional durante esse período difícil.
– Assessoria Jurídica: sempre procure aconselhamento jurídico sobre possíveis ações legais. Contar com o apoio especializado e da polícia é melhor que tentar tirar satisfação de cabeça quente.
E como reduzir os riscos? Dicas para prevenir a exposição de fotos íntimas
– Consciência Digital: qualquer imagem enviada eletronicamente tem o potencial de ser compartilhada além do destinatário inicial.
– Privacidade nas Configurações: familiarize-se com as configurações de privacidade das redes sociais e plataformas de compartilhamento de fotos e configure-as de forma adequada.
– Não Compartilhe Sob Pressão: nunca compartilhe imagens íntimas sob pressão de outras pessoas. A decisão deve ser pessoal e bem ponderada.
– Uso de Senhas Fortes: proteja seus dispositivos e contas com senhas fortes e autenticação de dois fatores.
Lembre-se de que se proteger melhor e encontrar maneiras de ajudar outras pessoas a evitarem este tipo de exposição é uma forma de ajudar a sociedade a lutar contra este ato.
Em suma, para denunciar qualquer tipo de exploração ou exposição de mulheres, ligue para 180 ou procure uma delegacia da mulher ou de crimes cibernéticos. Sua participação nesse movimento é fundamental.
E lembre-se de que a conversa EntreElas também é seu espaço de fala. Participe!
*os nomes fictícios para o sigilo das entrevistadas
