Como debater igualdade de gênero: o desafio de criar um filho

31 de agosto de 2023
Por EntreElas By Exeltis
Ensinar sobre feminismo e igualdade de gênero é um desafio ainda maior quando se tem um filho e uma filha.

O EntreElas está aqui para apoiar você com informação, sempre. E para provocar reflexão, trouxemos este artigo escrito por Isabel Sauras, editora do portal Bloom, sobre a dificuldade de colocar em prática e debater a igualdade de gênero. Esperamos que tenha uma ótima leitura e que ela provoque uma análise melhor ainda!  

“Sou mãe de um menino e de uma menina e adoraria começar este post dizendo que não tenho encontrado nenhuma diferença na hora de criá-los. O desafio de criar um filho e uma filha na atualidade, e debater a igualdade de gênero, é enorme, principalmente quando se trata de ensinar sobre feminismo para os dois.”

Quando você embarca na aventura de ter filhos, muitas vezes imagina como será seu comportamento com eles em diferentes situações. Como por exemplo em momentos alegres, em decepções ou com seus relacionamentos amorosos. Você quase sempre se vê como uma mãe muito legal, capaz de ensinar sobre feminismo para ambos os sexos, que nunca vai gritar com os filhos, nem castigá-los, e que não vai prometer coisas que não poderá cumprir.

Claro, quando comecei a me imaginar no papel de mãe, ficou claro que seria tolerante se meus filhos não se enquadrassem nos padrões pré-estabelecidos pela sociedade e que seria lindo educá-los em absoluta igualdade e respeito, independente de gênero. Aí vem a vida, com todas as suas circunstâncias e, quase sempre, te tira a razão. 

Tenho falado com muitos pais e mães ao meu redor que têm filhas e filhos e todos concordam no mesmo ponto: não deveria haver diferenças entre eles, mas todos nós as notamos em alguns aspectos do nosso dia a dia.

São quase sempre detalhes, mas é claro para mim que o contraste responde ao contexto cultural e social em que cada família vive. Onde o machismo ainda é o rei da casa, as meninas estão sempre em segundo plano, mas onde a igualdade é quem preside a mesa, filhos e filhas são educados com as mesmas oportunidades.  

Meninos e meninas são iguais quando nascem?

Generalizar é sempre um erro e uma injustiça e aqui no EntreElas sabemos que os estereótipos existem para que alguém os quebre. Partindo desse princípio, sabemos que é verdade que as condições físicas relacionadas ao sexo predispõem as crianças a alguns comportamentos e certas habilidades, mas a maioria dos clichês em que as crianças são submetidas foram determinadas pelo meio que as cerca.

Até pouco tempo atrás, hobbies ou gostos eram pré-estabelecidos desde o nascimento e nenhuma família aceitava de bom grado que as crianças saíssem do “normal” na hora de brincar e interagir com os outros. Assim, sempre se considerou correto que os meninos optassem por brincar com carrinhos, armas e bolas e que suas atividades preferidas fossem aquelas com mais ação. Já para as meninas, o apropriado era brincar com bonecas e brinquedos como cozinhas ou suprimentos médicos. Suas atividades sempre foram enquadradas nas áreas de criatividade e calma.

Na atualidade…

As novas gerações têm sorte e podem debater a igualdade de gênero em muitas formas. Felizmente, hoje é muito normal as meninas jogarem futebol e os meninos dançarem.

Para meu espanto, no caso dos meus filhos, os papéis têm mantido bastante o padrão. Sempre houve uma clara predisposição do meu filho para jogos de ação e atividades físicas. Ele joga basquete, faz judô e, quando comemora seu aniversário, prefere fazer algo ao ar livre onde possa correr, pular e se alongar. Além disso, desde que nasceu, ele tinha todos os brinquedos da irmã na ponta dos dedos, que eram bem femininos, diga-se de passagem, e nunca deu muita atenção a eles. Seus interesses sempre foram outros. 

Já minha filha sempre foi mais artística e criativa e se privilegiou de atividades como balé, música ou desenho. Embora, claro, ela também tenha praticado outras atividades mais dinâmicas. Só digo isso porque sempre a vimos mais à vontade desenvolvendo atividades mais calmas. 

Dentro de casa, o ideal é incentivar as crianças a experimentarem todo o tipo de atividades, a saírem da sua zona de conforto e a se testarem continuamente com aquilo que, a princípio, não as seduz muito. Sem julgamentos. Só assim é possível encontrar o que eles realmente gostam e são bons.

Ser menina ou menino na escola e na sociedade

A sociedade está melhorando nesse sentido, mas a marca do patriarcado ainda está muito presente, e é normal que isso afete a personalidade dos meninos e meninas de hoje. Trabalhar para minimizar essa lacuna é essencial para avançarmos para uma sociedade mais igualitária no futuro. 

As mensagens que transmitimos em casa devem ser as mesmas que nossos filhos recebem na escola. Principalmente a partir do ensino infantil, entre seis e sete anos, quando as crianças realmente começam a moldar seus valores e personalidade. Muitas vezes, as famílias têm a possibilidade de escolher uma escola com a qual se identificam, mas a verdade é que, embora a instituição de ensino dê as orientações, os nossos filhos estão durante o horário escolar com pessoas diferentes e isso às vezes pode se tornar um problema.

E a questão igualitária?

Em princípio, a educação que nossos filhos recebem é igualitária, se falamos de livros, trabalhos de casa e exames, mas e os valores? 

Mesmo nas escolas com mais visão de futuro, ainda existe um problema que às vezes passa despercebido, mas que deixa um rastro de desigualdade nas gerações seguintes. É que quase não aparecem referências femininas nos livros, como se as pessoas que mudaram o mundo e merecem ser estudadas fossem apenas homens.

Muito se falou sobre a diferente predisposição de meninos e meninas para algumas disciplinas escolares, mas ficou demonstrado que essa teoria não tem fundamento: os meninos não são melhores em ciências e as meninas em letras, nem agora nem nunca. 

Cada um dos meus filhos tem uma preferência por um tipo de assunto e eles são melhores nisso, mas em nenhum caso isso está relacionado ao sexo deles. Mais uma vez, esses estereótipos nada mais são do que uma resposta ao que marca nosso contexto social e nossa herança cultural.

Como ser um bom exemplo para nossos filhos? 

As crianças se inspiram e copiam os adultos mais próximos delas. Se em casa todos distribuirmos as tarefas igualmente, trabalharmos igualmente e não houver diferenças de responsabilidade entre nós, os filhos construirão suas famílias no futuro a partir dessas bases.

Se, por outro lado, o pai chega do trabalho e a mãe cuida de tudo ou vice-versa, e não há igualdade nem na hora de tomar decisões, nem de ditar as regras, provavelmente será difícil redirecionar esses comportamentos no futuro.

Claro, não é nada fácil agir sempre a partir do exemplo. Não somos perfeitos e não devemos nos culpar por errar na frente dos nossos filhos. Todos nós aprendemos com nossos erros. 

Aqui vai uma dica de ouro: não menospreze os outros e fale respeitosamente em casa, estimule o diálogo e o perdão em vez da vingança ou da violência e considere as tarefas domésticas uma tarefa de todos. Tudo isso ajudará as crianças a crescerem mais tolerantes.

E algo que eu acho muito importante destacar é o fato de que muitas vezes os pais falam dos filhos na frente deles descaradamente, como se eles não estivessem ali, e nós não temos noção do que essas palavras podem resultar. O que os outros dizem sobre você pode mudar o rumo da sua vida. É fundamental respeitar a individualidade de cada criança e aceitá-la como ela é, para o bem e para o mal.

E o que acontece com essas diferenças quando chega a adolescência? 

Acho que aqui está o cerne da questão. Enquanto as crianças são pequenas, as diferenças entre elas são menos óbvias. Os dois gêneros interagem muito normalmente e se tratam como iguais. Mas quando a adolescência chega, um abismo se abre entre meninos e meninas porque suas diferenças se tornam muito mais perceptíveis.

A adolescência é, sem dúvida, o período mais conflituoso para os pais que se preocupam com a educação dos filhos. É nesta fase que, em casa, vemos de forma mais evidente as diferenças entre meninos e meninas.

Aqui vão alguns pontos importantes que precisamos notar durante a adolescência: 

Desenvolvimento desigual

As meninas se desenvolvem muito mais cedo do que os meninos, e é necessário estar atento com tudo o que isso implica.

Suas referências

Não se trata mais de seus pais ou professores, mas cantores, atletas, atores, influenciadores ou youtubers, e nem sempre são pessoas exemplares e comprometidas com a igualdade e o respeito. Tanto meninos quanto meninas estão cientes, pela primeira vez, das diferenças que a sociedade estabelece entre homens e mulheres e se posicionam de acordo com esses cânones. As redes sociais tornam-se uma faca de dois gumes na adolescência. 

Personagem

Com a corrida hormonal, as meninas tendem a ter sentimentos de tristeza e baixa autoestima, enquanto a testosterona leva os meninos a adotarem um tom mais duro e até agressivo no trato com os outros.

Relacionamentos com amigos 

As meninas preferem conversar e passar muito tempo com seus amigos compartilhando preocupações. As crianças, por outro lado, tendem a passar mais tempo fazendo atividades com seus amigos, como brincadeiras, atividades físicas, videogame etc. 

Relacionamento com os pais 

Em geral, as meninas continuam a se relacionar com os pais da mesma forma, embora se tornem mais reservadas. As crianças tendem a confiar apenas na pessoa que é mais compreensiva e empática com elas. É preciso fazer um grande esforço para não perder a comunicação, já que na adolescência, uma conversa sincera vale ouro. 

Aspecto físico 

As meninas priorizam a aparência desde muito pequenas, mas quando chega a adolescência esse interesse aumenta muito mais. Para uma adolescente é importante estar bonita e sua autoestima geralmente está ligada à roupa que ela veste e como ela fica bem nela. É verdade que as crianças também se preocupam com o físico, mas em casa esta fase é vivida de forma muito diferente em meninos e meninas.

Relação sexual 

No meu caso e na minha pesquisa com pais de filhos e filhas adolescentes, fica evidente que tanto os pais quanto as mães têm uma preocupação muito maior com as meninas quando começam a sair à noite e têm relações sexuais pela primeira vez do que com os meninos.

Pode ser que seja algo irracional, que responda apenas a uma herança cultural, ou pode ser que esteja ligado ao fato de que as mulheres ainda são indefesas diante de alguns homens. A questão é que a preocupação não é algo que possamos evitar e fica evidente que, nisso, nossos filhos não são os mesmos aos nossos olhos.” 

Ensinar sobre feminismo e igualdade é realmente um grande desafio. Mas também é um assunto que precisa ser discutido em sociedade. Quanto mais falarmos sobre essas diferenças, melhor será o futuro das nossas crianças. Então, que tal compartilhar esse conteúdo com mais pessoas? Até a próxima! 

Conhece alguém que possa se interessar pelo assunto? Compartilhe.

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