É considerada obesa, uma pessoa com IMC – Índice de Massa Corporal acima de 30. Este número é calculado dividindo o peso pela altura ao quadrado. A relação entre obesidade e contracepção está em evidência porque os índices de obesidade no Brasil vêm aumentando. Cada vez mais pessoas e profissionais de saúde devem se preocupar com essa relação.
E, por isso, estou aqui hoje para alertar sobre os riscos dessa combinação que pode ser muito perigosa.
Estatísticas
Segundo a Pesquisa Nacional de Saúde, feita em 2019 pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), 29,5% das mulheres brasileiras têm obesidade — praticamente uma em cada três.
Por que obesidade e contraceptivos podem ser uma combinação perigosa?
A obesidade é uma doença. E como uma doença, ela pode trazer outras comorbidades, que são doenças associadas. Uma das mais comuns é a hipertensão. Em corpos com mais células de gordura no corpo, as veias, principalmente das penas, têm mais dificuldade para fazer o sangue voltar ao coração. Assim, todo o sistema cardiovascular é forçado a trabalhar mais, causando o aumento da pressão arterial.
Desta forma, a obesidade, além dos fatores genéticos, está associada aos hábitos de vida. Que, em alguns casos, podem ser classificados como maus hábitos de vida. Má alimentação e sedentarismo levam, por exemplo, a intolerância a glicose e/ou diabetes, propriamente dito.
Tudo isto que citei acima aumenta a incidência de trombose. E os métodos contraceptivos hormonais combinados (que usam estrogênio e progestagênio) também. Associá-los é colocar a paciente sob um risco muito elevado para trombose e até para o tromboembolismo pulmonar, que é bem mais grave.
Contraceptivos hormonais causam trombose em pessoas acima do peso?
Sim e não. Métodos contraceptivos hormonais combinados (estrogênio com progestagênio), aumentam o risco de trombose. Logo, se em pessoas obesas a incidência de trombose já é maior, somar a isso mais o uso do estrogênio pode ser uma escolha ruim.
Então pessoas obesas não podem escolher NENHUM anticoncepcional hormonal?
Não. Hoje, já existem contraceptivos hormonais apenas com progestagênio, com os quais já ficou comprovado que não há risco de tromboembolismo aumentado.
O que o profissional médico e pessoa obesa devem levar em consideração para a escolha do método contraceptivo?
Como profissionais, temos uma preocupação muito grande. É preciso analisar a pressão arterial, o IMC, a idade etc. Em todos esses casos, deve-se evitar medicamentos com estrogênio. E como já temos opções apenas com progestagênio, estas devem ser a primeira opção.
Então, quero falar para os colegas e pacientes analisarem bem. Mesmo que uma paciente esteja bem, adaptada ao uso do estrogênio, se ela for obesa, é prudente pensar na troca do contraceptivo, já que os parâmetros de saúde (hipertensão, diabetes, sedentarismo etc.) podem mudar a qualquer momento.
E com relação ao ciclo menstrual?
Outro ponto importante é que, geralmente, as mulheres que estão acima do peso também apresentam um ciclo menstrual bem irregular. Por vezes, apresentam amenorreia (muito tempo ser o fluxo) ou tem um fluxo muito aumentado, escapes etc. Este é mais um motivo para escolher um método contraceptivo que ofereça também um bom controle do ciclo para elas.
Pessoas obesas podem usar o adesivo?
Os adesivos fazem uso combinado de hormônios (tem estrogênio), dessa forma, não são a melhor opção, por tudo o que já falamos. Inclusive, na própria bula, ele é indicado apenas para pacientes com até 90 kg e, geralmente, pacientes acima de 90 kg, tem um IMC maior que 30.
O que temos visto é que as pacientes, independente da condição física, chegam ao consultório já com os riscos em mente. Isto é muito importante. É mais um indicativo de que iniciativas como esta, do EntreElas, tem disseminado conteúdo de qualidade.
Espero ter ajudado e até a próxima!