Estamos vivendo mais. Segundo o IBGE, a expectativa de vida do brasileiro chegou aos 77 anos. Será que esses anos a mais também valem para a vida sexual?
No Entre Elas, frequentemente falamos abertamente sobre diversos assuntos. Mas, fazendo uma autocrítica, falamos muito sobre anticoncepcionais , ciclo menstrual e como cuidar melhor do nosso corpo. E como fica a sexualidade quando chega o fim da idade reprodutiva? E mais: ainda dá para sentir prazer com um corpo chamado de “idoso”?
Será que o sexo envelhece?
Atrás de respostas e ampliando nossa conversa para além dos limites da contracepção, da menstruação e da saúde, conversamos com Liane Zink, diretora do Instituto de Análise Bioenergética de São Paulo e do Instituto Brasileiro de Biossíntese. Ouvindo a psicoterapeuta corporal listamos os tabus que ainda precisam ser quebrados quando o assunto é a vida sexual da pessoa idosa.
Então, se você quer ter uma sexualidade ativa com mais qualidade e por mais tempo, aproveite a leitura. Agora, se alguém do seu ciclo já passou dos 60 anos, além de ler com atenção, tem o dever de compartilhar esta matéria. Temos certeza de que assim como nós, vocês também vão aprender muito.
#1: Não se trata apenas de sexualidade, mas de SENSUALIDADE
Liane: Quando falo sobre a sexualidade de pessoas idosas, tento ir além. Falamos de sensualidade. O prazer pode ser encontrado em vários lugares e, para buscá-lo, é preciso procurar em todos os sentidos e sensações.
#2: Pessoas idosas podem ser mais abertas do que pessoas jovens
Liane: No momento em que alguém mais experiente decide falar sobre sexualidade, já se abriu para falar sobre o assunto mais do que muitas pessoas jovens. Por isso, não é verdadeiro dizer que eles oferecem mais resistência.
Ou seja, aqui vale uma dica: quando alguém quiser falar sobre isso com você, se abra para a conversa. Isto vai fortalecer muito a amizade entre vocês.
#3: Mais do que desejo sexual, libido é força de vida
Liane: Libido significa força de vida. Então, é claro que todo mundo tem. O fato é que problemas como a depressão, por exemplo, são muito frequentes na terceira idade. Por isso e por outras questões, a libido acaba sendo muito prejudicada. Mas, quando a pessoa está vitalizada, a libido tem espaço sim.
#4: O prazer não está só no sexo
Liane: Em todas as idades, a libido, ou seja, nossa energia vital, está pulverizada por diversos aspectos da nossa vida. Pode ser no trabalho, nos momentos de lazer, na convivência com a outra pessoa, no carinho… Todas essas são formas de viver e sentir a libido. E é isso que eu tento falar para os meus pacientes: libido é força de vida.
#5: Não dá para colocar todo mundo na mesma caixinha
Liane: Classifica-se como idosa uma pessoa com mais de 60 anos. Mas, estamos vivendo bem mais do que isso. E, claro, há uma diferença muito grande no corpo e no comportamento de pessoas com 60, 70, 80… Não dá para generalizar e oferecer as mesmas orientações para todo mundo que já passou dos 60 anos.
#6: É preciso se esforçar para manter a sexualidade viva
Liane: Com o passar do tempo, o desejo sexual não é mais tão aflorado. Então, para manter a sexualidade ativa, é preciso se esforçar. Não dá para ficar na passividade e esperar que o desejo sexual simplesmente apareça!
#7: Quem tem vagina pode recorrer a reposição hormonal, mas não é só isso
Liane: Pessoas com pênis têm medo da impotência e procuram soluções para isto. Já os corpos com vagina, temem muito a falta de libido. Nesses casos, é preciso saber que há uma janela para a reposição hormonal e que isto pode ser usado. Mas, não é só isso. Exercícios sexuais, por exemplo, também são aliados. E mais do que isso: é preciso acolher os medos, as angústias…
#8: Cuidar da saúde física e emocional é fundamental, mas não se pode esquecer o prazer
Liane: A pessoa nunca perde o encanto pelas novidades. Vejo pessoas idosas aceitando brinquedos sexuais, fantasias e fazendo desses itens aliados do prazer. Porém, há pessoas mais conservadoras, que tem receio em aceitar coisas desse tipo.
Nesses casos, o interesse pelas inovações científicas se foca em medicamentos e tratamentos de saúde, deixando a sexualidade em segundo plano. É aí que temos um alerta: cuidar da saúde física e emocional neste momento da vida é muito importante, mas não podemos esquecer do prazer que vem com a sexualidade.
#9: Nunca é tarde para transformar a vida sexual
Liane: Nossa cultura estimula que homens busquem ser sexualmente ativos em toda a vida. É assim que eles provam a sua virilidade e masculinidade. Através disso, encontram formas de prolongar a vida sexual não importa a idade.
Já com os corpos femininos é bem diferente. Encontro pessoas que estão com o mesmo companheiro há muito tempo. Muitas vezes, nunca tiveram experiências sexuais fora do casamento. Isto as deixa mais envergonhadas, menos abertas à discussão e as aprisiona. Caem no comodismo e acabam desistindo de buscar por uma vida sexual mais ativa e prazerosa.
Mas, como sempre, não dá para generalizar. Sei de mulheres que começam a se relacionar com novos parceiros e veem a libido se reacender.
#10: É sempre tempo de ser quem você é
Liane: Vejo homens com mais de 70 anos que, com muito custo, assumiram sua homossexualidade. Pessoas que a partir de toda essa discussão sobre as questões de gênero, conseguiram entender seu prazer. Não é fácil romper com a forma com que a pessoa viveu tanto tempo, mas algumas pessoas conseguem e, já com idade avançada, ter prazer da forma como sempre quiseram. É bem mais difícil do que com pessoas jovens, para as quais a questão do gênero sempre foi mais abertamente discutida.
